quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024


SÍNTESE  EXISTENCIALISTA  ( 1988 )


Devemos nos equilibrar e evitar muitos refúgios. Assim enfrentaremos as barreiras do indubitável, sem medos e sobreviveremos melhor com a natureza subjetiva. Para isso devemos ignorar ao máximo nossa existência racional, os enigmas e as limitações. Somos como um projeto ambicioso da natureza  que deu errado, por isso somos todos neuróticos. Se tivermos consciência disso e de suas causas, poderemos conviver melhor com nossos refúgios.

Estamos rodeados de banalidades que se formos analisar quase tudo que fazemos é ridículo e sem fundamentos. É triste nos descobrirmos em um mundo que não foi ainda descoberto.        Não se sabe a quem seguir e nem se compensa tampouco. 

Somos  movidos por ilusões por falta de razões. Tudo aquele que consegue encontrar energias para fazer qualquer grande obra é místico suficiente para ser analisado.  Nada está certo ou errado.  O abstrato é invenção do homem, não existe per si. Basta ver as contradições dos místicos para se ver o absurdo, pois a lógica exclui a fé, como a fé exclui a lógica.

Não existe razão de viver. Toda ação é um refúgio do nosso nada. A insatisfação não é anormal,  procurar a paz é melhor que procurar felicidade por que quem a procura pode sofrer com desilusões. A paz sendo um reflexo da desilusão existencial, só se dá valor nas coisas boas, as ruins são normais.

Tudo na vida é inútil, no cemitério não se separa os realizados dos frustrados. Passou, passou e só. O maior consolo para a infelicidade e incerteza futuras é a morte que tudo apaga. Já é um bom consolo o nada eterno. 

Se soubéssemos, antes de nascermos a vida que teríamos e pudéssemos escolher racionalmente, a espécie humana nem existiria. Entretanto, o sofrimento é facultativo. Nada tem lógica para o existir, devemos fazer o que acharmos certo, errar é normal, acertar não. Se existisse razão metafísica para existir não deveríamos nos auto-destruir. Se não existe passaremos a eternidade no nada, então ...

Assim é viver sem deus, viver por viver, sem temer a morte nem a auto-destruição. A única realidade em que se crê é a do ser pensante. O maior absurdo que existe é a própria existência e inútil.

Tentar mudar ou entender o mundo é condenar-se à revolta até a morte ou descrer a vida de propósitos. O mais sensato é não tomar partido de coisas controvertidas e incognoscíveis. Destarte, seguir o agnosticismo.

Quando reconhecermos nossa condição viveremos melhor. Mas não há como, tudo nos é muito inadequado e quem espera muito da vida dificilmente estará em paz. O importante é satisfazermos de alguma forma. Somos animais instintivos. Se conseguirmos coexistir com a natureza teremos razão para persistir. Vemos nas pessoas uma segurança hipócrita. Somos todos carentes, os jovens suprem suas carências afetivas e instintivas em entorpecentes e outros mais, como os adultos. Isso é o símbolo do suicídio ao encontrar a desilusão pelas dificuldades de realização.

Vemos peixes saltando, aves cobrindo grandes distâncias, homens e mulheres lutando com sacrifícios extremos , simplesmente para preservar-se. É um simples instinto, é a luta dos micróbios e animais em geral, é sobreviver para preservar-se, é morrer mas não acabar. Não se sabe para quê. Vemos sementes que germinam e crescem onde caem ou onde vão parar com as chuvas ou com os ventos em uma inexplicável e inútil luta. É lamentável a indiferença da natureza com a gente.

É na simplicidade que encontramos as coisas mais significantes, como a liberdade. O futuro é a morte e o presente não deve ser o tédio. É entediante constatar, porém, que as energias humanas não estão voltadas para o bem e o prazer mas para um mundo que não existe. Por isso não nos livramos das histerias.

É preferível  os problemas de uma tentativa que as frustrações de não tentá-la. As boas lembranças são forças para lutarmos. Fora as desilusões, sempre sobra algo de bom e estimulante. A vida tem que valer a pena e/ou o sonho ...





 

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